Os planos do Japão para criar um Vale do Silício no Oriente

Os planos do Japão para criar um Vale do Silício no Oriente

Apesar de ter tradição em empresas de tecnologia, como Sony, Panasonic e Hitachi, o Japão carece de startups do ramo. O governo agora reforça um programa para atrair companhias estrangeiras.

Apesar de reconhecido pela alta tecnologia, o Japão se desenvolveu mais no hardware do que no software. Com busca cada vez maior por um mundo mais digital e conectado, o Japão agora tem de se reinventar. O país pretende dobrar os investimentos de venture capital (capital de risco), como porcentagem do PIB, até 2022.

A fim de fomentar um Novo Japão mais tecnológico, o governo tenta incentivar empresas estrangeiras a levar soluções tecnológicas. O envelhecimento da população torna a mão de obra escassa. “Ainda existem traços do velho que estão travando o desenvolvimento desse Novo Japão”, diz Tatiana Nagamine, mestre em Economia pela Kyoto University e membro da Japan External Trade Organization (Jetro), órgão de relações comerciais exteriores do Ministério da Economia, Indústria e Comércio.

Em vigor desde 2003, o programa Investe Japão busca atrair empresas de grande, médio e pequeno porte, bem como startups. Desde a criação, foram recebidos cerca de 16 mil projetos, dos quais 10% se concretizaram. “Isso significa que são 100 novas empresas estrangeiras abrindo seus negócios no Japão, anualmente”, afirma Tatiana.

A Jetro tem escritórios físicos em mais de 50 países, a fim de atrair essas empresas para o Japão. Fornece informações de mercado, consultoria com especialistas, informações sobre incentivos, ambiente regulatório, entre outros serviços. Além disso, oferece um espaço de coworking no Japão.

No ano passado, a unidade da Jetro no Brasil visitou mais de 500 empresas. “A imagem que o Japão tem é de um país muito desenvolvido e de alta tecnologia. Mas quando a gente conta para essas empresas que o Japão precisa de software e que o ecossistema de startups ainda não é tão desenvolvido, as pessoas ficam surpresas”, diz Tatiana.

O Japão tem apenas dois unicórnios (empresas que valem mais de US$ 1 bilhão): a empresa de comércio eletrônico, Mercari e a companhia de tecnologia Preferred Networks. A falta de startups de sucesso deve-se à antiga política de incentivo a empresas de tecnologia, que fomentou multinacionais gigantes, com estrutura rígida. “As grandes empresas atraíram os melhores talentos com benefícios como emprego vitalício ou promoção por tempo e não por mérito”, afirma. Se uma pessoa tem um emprego estável, ganha dinheiro e tem reconhecimento da sociedade, dificilmente começará sua própria empresa.

A Fujifilm é citada por Tatiana como uma empresa japonesa com o foco em inovações. Fabricava filmes fotográficos, assim como a americana Kodak. Mas, diferentemente desta, sobreviveu à ascensão das câmeras digitais. “A Fujifilm olhou para dentro e pensou em quais ativos podem ser explorados em outros mercados”, conta Tatiana. A empresa tinha uma base consistente de conhecimento nas áreas de química e manufatura. “Num acervo de mais de quatro mil patentes, a Fujifilm viu que seus conhecimentos para a preservar a cor das fotos podiam ser usados na pele”. Nasceu a Astalift, uma marca de cosméticos anti-idade que ganhou o mercado japonês.

Outra política adotada pelo país asiático foi promover o Power Matching, evento anual para apresentar grandes grupos a startups com soluções inovadoras. O evento reúne cerca de 200 empresas, como a Sony e a Canon, e 500 startups do mundo inteiro. A edição deste ano, em outubro, terá pela primeira vez uma startup brasileira. “A gente percebe um desconhecimento tanto do lado brasileiro sobre o que acontece por lá, quanto do Japão sobre as atividades e necessidades brasileiras”, diz Tatiana.

Fonte: Época Negócios

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